escrito no moleskine #06


(escrito no moleskine a 6 de Maio de 2012)


despertar dos sentidos, no Pingo Doce
Era domingo, fui ao Pingo Doce do meu bairro, do bairro lisboeta cheio de pessoas idosas, não fui comprar o dobro das coisas, não fui em busca de promoções do dia, fui à procura de morangos, morangos frescos que conseguissem adocicar a minha língua, a língua que é operacional e sincera e que por vezes trabalha demais. A minha língua devia trabalhar como as mãosoutro membro tão importante nos sentidos, porque o que escrevo é muito mais reflectido do que aquilo que por vezes digo. Vislumbrei os morangos ao longe, peguei neles, e dirigi-me à caixa. Ao chegar à caixa dei de caras com um homem lindíssimo com um carro cheio de compras e que amavelmente deu prioridade à minha caixa de morangos. O homem tinha barba, óculos e aquele ar de bad boy que tanto aprecio, um verdadeiro colírio para os olhos, e cheirava bem, muito bem, e surpreendi-me porque o meu nariz, costuma falhar tanto comigo quanto a minha língua, tanto um como o outro falham pelo excesso de porcaria, proferidas e inaladas. O homem de tão simpático e belo entrou logo no mundo dos meus sonhos, e em cinco segundos, cinco segundos apenas, os sonhos desfizeram-se, quando aos meus ouvidos chegou o som de palavras como amor, crepe de chocolate e cerveja proferidos pela sua e carinhosa mulher (?), a quem mirei discretamente e reparei no colar de pérolas. Pérolas ao domingo só para a missa. Deixei o cinismo de lado, acordei para realidade, paguei os morangos e fui para casa.
Quando cheguei a casa, olhei-me ao espelho, toda vestida de preto, de botas de cano alto e cabelo preto solto, com um livro na mão (a minha pérola), pareço uma bad girl e revejo os 5 minutos em que fui a protagonista de uma música da Alanis Morissette. Irónico.
Hugh Jackman

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